25.3.05

“Soltemos um forte Viva o Teatro de Amadores”

Com esta expressão, emotiva e forte, termina a mensagem que, a propósito do Dia Mundial do Teatro, a Associação Nacional de Teatro de Amadores (ANTA) nos fez chegar. Vale a pena ler.

MENSAGEM DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TEATRO DE AMADORES - ANTA - PARA O DIA DE TEATRO DE AMADORES 21 de Março de 2005 Sobe o pano. Cena 1: Lugar à jorna. É o palco da vida. O quotidiano. A cena tanto pode decorrer numa oficina, como numa escola, como ao volante de uma viatura pesada de transporte, como de uma ligeira de passageiros, como utilizando uma arma de guerra. Nada impede que aconteça num cenário campestre tipicamente destinado às fainas agrícolas, como é possível que decorra também num singelo escritório de um humilde homem de leis ou sob o tecto pobre de um qualquer João Semana. Mas a cena pode ainda ter lugar num magnífico e luxuoso gabinete de sapiente desembargador, de honesto político ou de afamado cirurgião ou ainda de experimentado e competente general. O cenário há-de ter a necessária correspondência com o habitat em que se insere, como não podia deixar de ser. A luz? Ah! Essa tanto pode ser natural como artificial, a condizer, como é evidente, com o local onde decorre a cena. Contudo, desde que se use a luz artificial, invente-se forma de que seja perceptível que na maior parte destes teatros é de dia. Quanto ao som, bem, tanto pode ser um chilreio de aves, se no campo, como o barulho de máquinas, se na fábrica, o de uma cena erótica se num esplêndido gabinete, enfim deixe-se correr a imaginação que o som há-de aparecer. À falta de melhor sugerem-se ruídos de altercações, discussões, insultos, que disso existe em qualquer palco da vida e em grande abundância. Se alguém souber dar ideia dos sons da inveja, da deslealdade, da hipocrisia, da irresponsabilidade, está inteiramente à vontade que tais pragas proliferam também e em abundância no mesmo palco da vida. E como se movimentam os actores nestes palcos? Bem, uns muito bem, outros razoavelmente, outros assim-assim, outros ainda mal e alguns, valha a verdade, pessimamente. E quando fingem? É o diabo. A cena termina com o chegar da hora de abalar que se faz tarde. Luz fraca do cair da noite. Som frenético que transpire muita pressa. Os actores, na sua maioria, já não precisam de fingir e abandonam a cena radiantes porque se aproxima a cena 2, aquela que verdadeiramente AMAM. Cena 2 Lugar ao ensaio. Também pode ser ao espectáculo. O palco? Muitas vezes não existe. Cenários? Construídos pelas próprias mãos com materiais que, de preferência, não envolvam custos. Luz? Existem uns tantos projectores, quantas vezes igualmente produto de muita imaginação, que o dinheiro não abunda para grandes voos. Som? Um simples leitor vai resolvendo o problema. Quanto aos actores? Bem esses deixaram para trás todas as peripécias vividas na cena anterior e preparam-se agora para aquela que verdadeiramente preferem. Uma olhadela rápida para o papel. Ai quantas palavras que às vezes não se entendem muito bem! E pensar que já estava tudo sabido. Engano. E o pior é que no palco onde decorre a cena anterior não há lugar para este estudo. Tem que ser neste. Mas o desejo, agora sim, de bem representar, a paixão pela arte de Talma tudo ultrapassa. É o TEATRO DOS AMADORES. Amadores porque o experimentado nos palcos anteriores é que constitui o seu ganha-pão. Amadores porque muito amam o teatro. Tudo a postos. Acção. E é vê-los então despojados de todas as angústias da anterior cena. E é vê-los então possuídos de uma vontade indómita de ousar produzir, sem nunca perder de vista o objectivo de apresentar espectáculos para públicos específicos diferenciados. Agora falam, além recitam, mais adiante cantam. Quando é necessário chorar, choram. Mas também riem quando é preciso. A noite já vai alta. Pena que a cena chegue ao fim. Mas agora é preciso ir dormir à pressa. As luzes vão-se apagar. Vai voltar a haver mudança de cena. Há que tornar ao palco da vida. É o TEATRO DE AMADORES. Amadores que nesta data comemoram o seu dia. E ao fazê-lo têm plena consciência de que contribuem de uma forma inequívoca para o seu enriquecimento pessoal, para a sua valorização, para a sua formação integral. Mas sabem igualmente que, andando por aí, levam esse mesmo enriquecimento, a mesma valorização e o mesmo contributo para a formação integral dos outros. Quantas vezes pagando para tal. Sim, porque isso dos subsídios para a cultura são, em regra, para outros. Para os que nem precisam de mudar de palco. Cai o pano. Demos então as mãos, agradeçamos em conjunto os aplausos que indiscutivelmente são devidos aos que, livremente, espontaneamente e com paixão fazem o teatro para além de outras coisas e soltemos um forte VIVA O TEATRO DE AMADORES